DIA DAS BRUXAS
No dia 31 de outubro o ministro da Justiça, Torquato Jardim, fez uma denúncia corajosa e pertinente quando disse que o governador Luiz Fernando Pezão e o secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Sá, não controlam a Polícia Militar, e disse mais, que o comando da PM no Rio de Janeiro decorre de “acerto com deputado estadual e o crime organizado”, e que “Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio”.
Torquato fez o que nenhum dos seus antecessores fizeram; fez o que nenhum secretário de Segurança Pública de Rio teve a coragem de fazer, ou por omissão, ou por conivência, ou porque teve ou tem envolvimento direto com as ações do crime organizado e dai a falta de interesse em combater com efetividade uma organização criminosa que lhes dá algum resultado econômico ou político no Estado. São por estas e outras que o Rio esta tomado há décadas pela criminalidade e ninguém tem interesse em extirpar este mal que controla as atividades narcotráfico nas favelas, deixando a população a mercê dos criminosos e milicianos que intimidam e disseminam o terror, tornando-os refém destes bandidos.
O ministro está convencido que o assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo Tavares, que comandava o 3º Batalhão da PM, do Méier, não foi resultado de um assalto, e que se tratou de um acerto de contas. “Ninguém assalta dando dezenas de tiros em cima de um coronel à paisana, num carro descaracterizado”.
Esta denúncia parece ser uma verdade que incomoda o governador, militares, secretário de Segurança e políticos do Rio. É uma verdade que estava exposta e ninguém tinha coragem de falar. A violência virou uma coisa normal, aceitável e institucionalizada. O crime organizado se profissionalizou, tornou-se parte da atividade econômica e da vida do povo do Rio de Janeiro, ante o olhar complacente do governo, que finge não vê suas ramificações em algumas instituições públicas do Estado.
Não é preciso ser nenhum especialista em segurança pública para saber que é inadmissível aceitar como grupos de criminosos tomem de assalto uma cidade do porte do Rio, controlando bairros, morros, ruas, vielas e o comércio, e toda esta ação fique parecendo uma situação normal, como se o domínio exercido por estes criminosos (traficantes e milicianos) não existisse e todos aceitando passivamente esta violência contra o povo carioca.
Não se pode conceber um domínio de tal magnitude sem o envolvimento de parte dos agentes públicos do Estado: militares, políticos e a conivência dos governos municipal e estadual. Uma organização criminosa não mantem um domínio como o que mantem no Rio de Janeiro se não tiver a ajuda externa; se não tiver envolvimento de atores do governo que tem interesses nas áreas ocupadas. Sem este conjunto de agentes públicos apoiando direta ou indiretamente estes criminosos eles não dominariam e se fortaleceriam como organização criminosa durante tanto tempo do jeito como o fazem no Rio.
O coronel Luiz Gustavo fazia parte da banda boa da polícia e deveria ser uma pedra no sapato dos criminosos. Por isso ele foi executado assim como são assassinados alguns policias no exercício da profissão ou em suas folgas.
Estes senhores notáveis e intocáveis que integram os poderes do Estado, que questionam o ministro Torquato, deveriam perguntar as famílias dos moradores das favelas e as famílias dos policiais mortos nesta guerra insana travada todos os dias no Rio de Janeiro como elas se sentem com a morte de seus entes queridos e o que elas acham da denuncia do ministro. Com certeza elas estarão de acordo com o ministro.
Como o ministro disse, isso pode mudar em 2018. Mas ele se esqueceu de dizer que esta mudança está nas mãos do povo do Rio de Janeiro que é quem pode efetivamente fazer as mudanças.
Com a palavra da mudança o povo carioca.
Juarez Cruz
Escritor e cronista
Salvador-BA
jornal.prevencao@uol.com.br
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