SÓ FALTA VOCÊ'
O jornal da
família Marinho enviou o recado por meio da charge de Chico Caruso, publicada
na primeira página do jornal O Globo; o desenho retrata José Dirceu atrás das
grades com um smartphone, a imagem do ex-presidente Lula e o título da famosa
canção 'Agora, só falta você', de Rita Lee; internamente, colunista Merval
Pereira afirmou que "já é possível perguntar e discutir se Lula vai ser
preso"; antes dele, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que,
"se Lula merece ser preso, é de se lamentar porque terá jogado fora sua
história"; direita busca inviabilizar eventual volta de Lula em 2018, por
meio da via judicial
...
Internamente,
o colunista Merval Pereira afirmou que "já é possível perguntar e discutir
se Lula vai ser preso". Merval foi além e disse ainda que "agora
resta aguardar para ver se nossa democracia já está madura o suficiente para
vermos com naturalidade, embora indignados, um ex-presidente da República sendo
investigado por corrupção".
Leia,
abaixo, reportagem da agência Reuters sobre eventual investigação contra Lula:
PF prende
ex-ministro José Dirceu e Lava Jato se aproxima de Lula
Por Sérgio
Spagnuolo
CURITIBA
(Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu, apontado como um dos “líderes principais” que instituiu o
esquema bilionário de corrupção na Petrobras ainda durante o período em que
ocupava o cargo no Palácio do Planalto, levando a operação Lava Jato
diretamente ao centro do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo os
investigadores, o modelo era semelhante ao do mensalão, esquema de compra de
votos no Congresso descoberto durante o governo Lula pelo qual o ex-ministro já
cumpria uma sentença de prisão domiciliar.
Dirceu,
homem forte do governo Lula durante o período em que comandou a Casa Civil
(2003 a 2005), foi preso pela PF de forma preventiva em sua casa em Brasília
como parte da 17ª etapa da operação Lava Jato, que recebeu o nome “Pixuleco” em
alusão ao termo utilizado para nominar a propina recebida em contratos.
“Temos uma
investigação que busca José Dirceu como o instituidor do esquema Petrobras ainda
no tempo da Casa Civil, ainda no tempo do governo do ex-presidente Lula”, disse
o procurador do Ministério Público Federal Carlos Fernando dos Santos Lima em
entrevista coletiva em Curitiba, onde estão concentradas as investigações da
Lava Jato.
Nesse caso,
Dirceu é acusado de enriquecer pessoalmente ao receber propinas de prestadores
de serviços da Petrobras, inclusive enquanto estava preso em Brasília,
condenado no esquema do mensalão.
“Estamos
diante de um caso de reiteração criminosa em que José Dirceu vem, dentro desse
esquema de recebimento de propina, desde as investigações do mensalão, passando
pela acusação e passando até por sua prisão”, disse o procurador.
Entre as
acusações contra o ex-ministro está a de que teria recebido 96 mil reais mensais
entre 2004 e 2013 a título de propina por conta de um contrato de terceirização
na Petrobras. A acusação foi feita pelo lobista Milton Pascowitch, um dos
delatores da Lava Jato, segundo o despacho da Justiça que determinou a prisão
preventiva de Dirceu.
Em
entrevista coletiva em Brasília, o advogado Roberto Podval, que representa
Dirceu, disse que a prisão preventiva do ex-ministro foi desnecessária e que
Dirceu tornou-se "bode expiatório".
Na noite
desta segunda, o ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal
(STF), colocou Dirceu à disposição da Justiça Federal do Paraná, permitindo sua
transferência de Brasília para Curitiba.
O irmão do
ex-ministro, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, também preso nesta segunda-feira
em caráter temporário, seria o responsável pela coleta do dinheiro nas empresas
para a JD Assessoria, de propriedade de Dirceu, enquanto o ex-ministro estava
preso, disseram os investigadores da Lava Jato.
Ecoando
comentários recentes do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes,
Lima discorreu sobre as semelhanças desse esquema com o chamado mensalão.
“Nós
entendemos que o DNA, como diz o ministro Gilmar (Mendes, do STF), é o mesmo do
mensalão e da Lava Jato. Nesse caso, creio que José Dirceu é uma das pessoas
que decidiu pela criação desse esquema”, afirmou.
LÍDER
Mais do que
um beneficiário, a força-tarefa busca provar que Dirceu era um dos “líderes
principais” na instituição do esquema de corrupção da Petrobras.
“Queremos
mostrar José Dirceu como um dos agentes responsáveis pela instituição do
esquema Petrobras ainda no tempo em que... era ministro da Casa Civil”, disse o
procurador.
Dirceu teria
sido, segundo o MPF, o responsável pela indicação de dois diretores da
Petrobras envolvidos no escândalo: os ex-diretores de Serviços e de
Abastecimento, Renato Duque e Paulo Roberto Costa, respectivamente.
Ainda
segundo o MPF, Dirceu era responsável por definir cargos na administração da
Petrobras e dessa forma instituiu o esquema de pagamento de propinas na
estatal, do qual era um dos beneficiários.
“Esse
esquema passa pela compra de apoio parlamentar, ele passa por uma facilitação
do lucro das empreiteiras, ele passa pelo enriquecimento de diversas pessoas --
no caso de José Dirceu, temos provas de enriquecimento pessoal, não mais de
dinheiro só para o partido”, disse o procurador.
COLETA DE
PROVAS E PRISÃO
Há tempos se
especulava sobre uma eventual implicação de Dirceu nas investigações da Lava
Jato, mas autoridades ainda não haviam vinculado o nome do ex-ministro ao
escândalo da Petrobras. Isso mudou com o acordo de delação feito pelas
autoridades com o lobista Milton Pascowitch.
No começo de
julho, a defesa do ex-ministro chegou a entrar com pedido de habeas corpus
preventivo junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região para evitar que ele
fosse preso no âmbito da Lava Jato. O pedido foi negado.
“Estávamos
aguardando elementos que permitissem a confirmação das hipóteses que a gente
tinha trabalhado, que ocorreu apenas recentemente tanto com acordo do
Pascowitch quando do Julio (Camargo, da empresa Toyo Setal), e de algumas
outras ações que a gente conseguiu confirmar”, disse a jornalistas o delegado
da PF Márcio Adriano Ancelmo.
O
ex-ministro é o primeiro integrante de destaque do governo Lula a ser preso
como parte da Lava Jato.
Perguntado
se o próprio Lula pode ser investigado ou até mesmo detido pelas autoridades, o
procurador do MPF disse que “ninguém está isento de ser alvo de investigação”,
mas acrescentou que “não existe neste momento nenhum indicativo de necessidade
de prisão de quem quer que seja que não esteja atualmente preso”.
Procurado
pela Reuters, o Instituto Lula informou que não irá comentar as declarações do
procurador.
A PF deve
aguardar permissão do Supremo Tribunal Federal para que Dirceu possa ir para
Curitiba, já que ele atualmente cumpre prisão domiciliar, por condenação
decorrente do mensalão.
Entre os
detidos nesta segunda-feira também está o lobista Fernando Moura, ligado ao PT.
Uma das suspeitas é que ele tenha exercido influência na indicação de Renato
Duque para a diretoria de Serviços da Petrobras.
Em Brasília,
após reunião de coordenação política com a presidente Dilma Rousseff, o
ministro das Cidades, Gilberto Kassab, disse que não há no governo
"nenhuma expectativa" de que as investigações venham a se aproximar
da presidente ou de sua administração.
“Em relação
à questão do ex-ministro José Dirceu... É uma questão das investigações e todos
nós confiamos muito na conduta da presidenta Dilma. Em nenhum momento passa por
nós nenhuma expectativa que se aproxime dela qualquer investigação e de seu
governo”, disse Kassab a jornalistas.
17ª FASE
Entre os
crimes investigados pela PF na 17ª fase estão corrupção ativa e passiva,
formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, de acordo
com a polícia. A PF também cumpriu medidas de sequestro de imóveis e bloqueio
de ativos financeiros. Segundo o Ministério Público Federal, serão bloqueados
20 milhões de reais em bens de cada um dos envolvidos nesta etapa.
A Lava Jato
investiga um esquema bilionário de corrupção principalmente na Petrobras, no
qual empreiteiras formaram um cartel para vencerem contratos de obras da
estatal. Em troca, pagavam propina a funcionários da empresa, a operadores que
lavavam dinheiro do esquema, a políticos e partidos.
De acordo
com investigações da PF e do Ministério Público Federal, o esquema de corrupção
se espalhou para outras esferas do poder público, como o setor elétrico.
(Reportagem
adicional de Pedro Fonseca e Caio Saad, no Rio de Janeiro; Maria Carolina
Marcello e Leonardo Goy, em Brasília; e Eduardo Simões, em São Paulo)